sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

(Im)plantando paradigmas


Para dissertar a respeito da evolução inter-relacional humana difícil seria estabelecer uma constante antropológica segura para se referir às matrizes econômicas pelas quais teriam passado os povos primitivos, todavia, não é segredo algum que a história culminou no presente cenário onde vivemos à margem da ficção capitalista, em sensível prejudicialidade ao individualismo e em benefício da objetificação do sujeito...Amedrontadora é a ideia de que o evolucionismo de Darwin chegara ao colapso com a sociedade moderna.
Com o avanço cada vez mais voraz do ideal capitalista, baluarte remanescente da Modernidade falida, salta aos olhos a mitigação das inter-relações necessárias a manutenção da harmonia e sustentabilidade sociais. A luta (imaginária) pela sobrevivência impulsiona a competição onde o ente já não mais possui consciência de seu nicho social, o plano neoliberalista encarrega-se de etiquetar, enumerar e tornar a sociedade um mar de beócios.
O que temos atualmente é um sistema pedagógico pífio, onde os indivíduos são moldados à vida produtiva, mecanizados para servirem ao ideal competitivo. Na maior parte do ensino fundamental, sem qualquer embasamento filosófico, a socialização primária exclui desde logo qualquer chance de uma introdução filantrópica.
Fundados ainda na derrocada Filosofia da Consciência, os entes sociais abstraem a "verdade" de um hedonismo torpe, onde não há lugar para a consideração do alter. A doutrina moral herdada de Kant cai por terra, em benefício da acomodação ao status quo. O senso comum (que não é teórico, pois o teórico já perdeu seu lugar para o pragmatismo) é uma onda fúnebre que contradiz o evolucionismo Darwiniano ao apontar que em pleno estado de evolução intelectual humana ainda se verifiquem tantas mazelas sociais.
Utópico é acreditar que o Direito, legitimado(?) pelo Estado Democrático (ironicamente) de Direito é a panacéia para os males sociais. A bem da verdade, a lógica neoliberal outorga ao Estado o "assassinato sob o pálio da lei" (Herkenhoff) dos subprodutos do sistema, o que faz aumentar paradoxalmente, a "violância simbólica" (Bourdieu) e ao mesmo tempo a tranquilidade frente ao sistema, pois não mais é preciso evoluir, a sociedade inerte já possui pão e circo, de nada importa qualquer senso crítico vez que "tudo está bem", os guris do sinal estão no sinal, os mendigos estão sob as marquises, os corrutos estão no governo e a sociedade...A sociedade está feliz com seus salários, suas casas, suas novelas.
É chegada hora de se instaurar um novo paradigma e isso há de ser promovido sobretudo nas raízes pedagógicas do cidadão: o ensino fundamental. A educação propedeutica é a base para o ressurgimento da moralidade perdida com o passar do tempo com vistas a um devir solidário, onde os entes sociais estarão comprometidos em um métier pós-moderno, onde se elimine "o olhar como objeto a" (Lacan) vez que a distância entre os entes será cada vez mais desmistificada.
Interessante notar que a pedagogia atual se furtou da tarefa essencial de introduzir o ser no cenário ecológico onde se reconhecem os laços que ligam todos os entes de maneira universal. Resgatar o princípio filantrópico da cooperação mútua onde predomine a constante da solidariedade e revolucionar a socialização primária instaurando a Filosofia da Linguagem em benefício do constante crescimento intelectual dos entes, vez que se eliminaria o conhecimento retirado do plano ideal e admitindo que toda forma de conhecimento é formada através da interação semântica entre os sujeitos (Habermas) são propostas para uma reviravolta paradigmática na busca do tão sonhado "mundo melhor"

Por Diego Lima

Um comentário:

  1. É incrível mesmo como recebemos muitas informações, principalmente na infância, sem a devida filtragem. O que leva à passarmos toda uma vida, ainda que inconscientemente, baseados nesses ideais.

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