domingo, 14 de fevereiro de 2010

(In)surgir



Ao ingressar no curso de Direito, creio que despertei um senso (já latente) de um anacrônico revolucionário latino-americano, com uma necessidade de usar um allstar, camiseta do Che, com pedras na mão bradando si hay gobierno, soy contra!...Graças a Deus me desenganei a tempo e entendi como se joga o jogo deles, o jogo de não ver que estão jogando (Laing).

A bem da verdade, a revolução não será televisionada, rebeldes sem causa com seus standards de incoerência não prosperarão face as falácias de uma modernidade falida, como é o caso do Brasil.

Dia desses quando ia para o trabalho, deparei-me com uma pequena passeata de um grupo de pré-adolescentes. Balbuciavam um monte de coisas e custei a entender que se insurgiam contra o aumento da passagem na rede municipal de circulares. Aquela cena me fez pensar em quão inocentes são os revolucionários de hoje. Quem é que liga para um pequeno grupo de crianças de intelecto duvidoso, gritando palavrões com faixas de E.V.A.?

Ora, hoje em dia já não se liga mais nem pra decisões do STF, como quando em novembro passado o Senado não acatou a decisão que determinava a cassação do mandato do senador Expedito Júnior (PSDB-RO), o que dirão então sobre a opinião pública? Aaah...A opinião pública, completamente levada pelos ventos midiáticos, a população parece ser escrava de um capitalismo torpe e encontra-se mais preocupada com qual será o próximo eliminado do BBB, do que com aquilo que ocorre nas governanças públicas.

Em sua maior parte a população sequer tem aquele parco espírito de luta (ainda que inócuo) presente nas vozes dos jovens que protestavam contra o aumento das passagens. O sistema é perfeito: o povo faz o que a mídia quer e o governo não implanta disciplinas como filosofia, sociologia e direito constitucional no ensino propedêutico, pois não deseja criar monstros que ao invés de gritar em praças escrevam artigos, cartas, manifestos, ações populares e assim seguimos com nossas bolsas auxílio, novelas, reality shows, escândalos diários, criminalidade, aumento da gasolina, carnavais, etc... Tudo ocupando seu nicho na teia da vida.

As janelas do país estão quebradas pelo lado de dentro (Miranda Coutinho) e já nos acostumamos com esta imagem, tanto que os escândalos políticos já não possuem mais nada de escandalosos, são mais que triviais. Um sobrepõe o outro de forma que ninguém seja responsabilizado... Mensalão, cartões corporativos, satiagraha, Sarney, Arruda (devo ter esquecido algo...), uma formidável sobreposição cronológica de casos. A medida que ganhamos presentes novos, esquecemos dos velhos.

Com uma despretensiosa análise antropológica, nota-se que paradoxalmente a liberdade do Estado de Direito acomoda o povo na caverna de Platão, ao contrário do que ocorria na ditadura, donde herdamos inigualáveis produções musical, artística e intelectual como um todo.

E a solução? Ah...A solução é mais velha que guardar água na geladeira em garrafa pet (e tão fácil quanto). Como venho escrevendo em posts anteriores, a solução é uma revolução na propedêutica educacional, ou seja, criar pilares sólidos para uma sociedade em crise investindo tudo que temos em educação.

O revolucionário contemporâneo não revoluciona nada pelas armas, mas sim por sua capacidade de não usá-las e ser notado.


Diego Lima